O Caminho versus a instituição
sexta-feira, 20 de março de 2009
Postado por Unknown
Não carregamos alguma espécie de fobia institucional, como se o simples fato de desviar-se da instituição promovesse o Evangelho. Não é o caso.
Toda instituição que existe para servir aos homens é boa e útil. Porém, quando ela demanda que os homens existam para mantê-la e servi-la como finalidade, então, ela se torna demoníaca e instrumento do congelamento das almas humanas.
Penso que a instituição é sempre algo como o Sábado nas narrativas do Evangelho: pode ser dia de descanso ou pode ser dia de prisão, juízo e morte. Assim como o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado, também a instituição existe para servir ao homem, e não o homem à instituição. Sim, o institucional nos serve.
Veja: reconhecimento e afinidade geram instituição. Instituição é fruto da convicção em comum. Onde quer que pessoas se encontrem em razão de uma convicção em comum, ali há uma instituição, mesmo que seja nos encontros do bar da esquina.
Ora, nesse sentido, até o espaço virtual do portal www.caiofabio.com, pela convergência de milhares de pessoas que a ele se ligaram pela convicção e em razão de cuja convergência veio a surgir naturalmente o Caminho da Graça, é também uma instituição.
Parece tudo muito simples de entender, mas a história mostra como o poder de perversão humana é facilmente exposto quando a instituição se instala em nós com I maiúsculo. É assim em todos os níveis sociológicos e, naquilo que nos interessa aqui, também é assim no cristianismo protestante do qual descendemos. Ora, isto vai das formalidades e das politicagens dos concílios e das convenções denominacionais e ministeriais até as mais cretinas formas de perversidade praticadas em nome de Jesus, e feitas de intrigas, tiranias, perseguições neuróticas e invenções mirabolantes que tiram a simplicidade do Evangelho e pervertem o sentido de ser evangélico.
Por isso, minha luta nunca foi contra a instituição, pois tal luta é tão inglória e tola quanto correr da própria sombra. Minha luta sempre foi contra a institucionalização.
A instituição deve ser fruto do que é. Já a institucionalização põe o que é a serviço de algo que já não é, posto que apenas um dia foi. Como assim?
O princípio do Evangelho acerca do que se institui pela realidade e necessidade, em contrapartida àquilo que um dia foi e hoje já não é, nos é apresentado por duas imagens: a dos odres velhos e dos novos e a da veste velha e do pano novo.
A instituição é validada pela sua relevância e pelo seu significado real para a vida hoje. Instituição é um ente vivo se é feito de gente e para gente! Mas Institucionalização é o esforço presente por manter o passado e suas regras humanas de ontem válidas para hoje, mesmo que ninguém consiga ver a sua significação. Logo, é só a ditadura dos defuntos.
Assim, o pano novo e o vinho novo correspondem à instituição do que é — do que é necessário e do que é verdadeiro e sincero com a realidade. Do mesmo modo, a veste velha e o odre velho, com seu vinho velho, correspondem à institucionalização.
Jesus disse que era para não se tentar instituir o novo no velho instituído, pois jamais haveria compatibilidade.
Já o que se faz instituído como algo fixo (institucionalização) deseja vestir para sempre as pessoas com as vestes de ontem e almeja que cada nova geração goste do mesmo vinho produzido num ontem eterno. Assim, o que antes fora vinho novo, tendo sido condicionado por um odre de imutabilidade, pode hoje já não ser nada, além de vinagre. E o perigo é esse: beber vinagre como quem bebe vinho!
O Evangelho Imutável é o Vinho, e o resto tem a ver com o tempo, com a hora, com a ocasião. Só que nós, cristãos, acabamos institucionalizando o Odre, e o Odre ganhou uma importância tão grande que a gente briga, mata e morre pelo Odre, mas são poucos os que estão interessados com a qualidade do Vinho.
Saibam todos: é por ter entregado a alma à "Institucionalização" e as instituições a gente sem alma que a "igreja" carrega as mazelas desse estado de ser. A lei, o orgulho, a vaidade, o mercado, a vanglória, a fama, o culto à imagem, o comportamentalismo, a superficialidade, o formalismo, os ciúmes, a picaretagem, a fixação no controle das pessoas, as jogadas políticas, a venda de votos, as negociatas e a grotesca hipocrisia tornaram os evangélicos insuportáveis até para os evangélicos mais sensíveis!
Portanto, algumas coisas precisam ficar claras:
Desse modo, digo: o Caminho da Graça é uma instituição pelo simples fato de milhares de pessoas — seja pelo site, seja em razão dos encontros nas dezenas de grupos e Estações — afirmarem sua convergência de convicção nas mesmas coisas, confessando os mesmos objetivos no
Evangelho, e que estão, de modo relativo e secundário, expressos de forma atualizada nos conteúdos que publicamos.
Entretanto, o principal conteúdo do Caminho da Graça é sua disposição de existir em metanóia, no permanente encontro entre a Palavra e a Existência. Assim se espera que o processo de se converter ao novo não cesse jamais, conforme a revelação do Evangelho, o qual é Palavra viva, e se re-atualiza a cada nova realidade ou geração.
Saiba-se, contudo, só uma coisa a mais: eu já tomei atitudes deliberadas que puseram abaixo algo que era considerado "muito importante" para milhões; e isso porque eu senti que estava traindo o Chamado de minha existência como homem. Assim, por que achariam que eu tenho dificuldade em ver acabar qualquer coisa que eu tenha ajudado a construir?
Não! Não tenho nenhum compromisso com perdas, padrões de um dia ou com a manutenção do que um dia foi bom. O que é de Deus, sempre é Hoje!
Eu creio que tudo aquilo que vira um fim em si mesmo precisa ser destruído. Sim, qualquer coisa. Ou seja: no Caminho nada é erguido para ser um fim em si mesmo. Se assim for, bem-aventurado é todo aquele que o puser abaixo. Afinal, é assim, ou deveria ser assim, com todas as coisas debaixo do sol.
O Caminho da Graça para Todos
25 de março de 2009 às 10:58
Muito bom, é exatamente esse o entendimento que deveria nortear a vida cristã.