Não carregamos alguma espécie de fobia institucional, como se o simples fato de desviar-se da instituição promovesse o Evangelho. Não é o caso.

Toda instituição que existe para servir aos homens é boa e útil. Porém, quando ela demanda que os homens existam para mantê-la e servi-la como finalidade, então, ela se torna demoníaca e instrumento do congelamento das almas humanas.

Penso que a instituição é sempre algo como o Sábado nas narrativas do Evangelho: pode ser dia de descanso ou pode ser dia de prisão, juízo e morte. Assim como o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado, também a instituição existe para servir ao homem, e não o homem à instituição. Sim, o institucional nos serve.

Veja: reconhecimento e afinidade geram instituição. Instituição é fruto da convicção em comum. Onde quer que pessoas se encontrem em razão de uma convicção em comum, ali há uma instituição, mesmo que seja nos encontros do bar da esquina.

Ora, nesse sentido, até o espaço virtual do portal
www.caiofabio.com, pela convergência de milhares de pessoas que a ele se ligaram pela convicção e em razão de cuja convergência veio a surgir naturalmente o Caminho da Graça, é também uma instituição.

Parece tudo muito simples de entender, mas a história mostra como o poder de perversão humana é facilmente exposto quando a instituição se instala em nós com I maiúsculo. É assim em todos os níveis sociológicos e, naquilo que nos interessa aqui, também é assim no cristianismo protestante do qual descendemos. Ora, isto vai das formalidades e das politicagens dos concílios e das convenções denominacionais e ministeriais até as mais cretinas formas de perversidade praticadas em nome de Jesus, e feitas de intrigas, tiranias, perseguições neuróticas e invenções mirabolantes que tiram a simplicidade do Evangelho e pervertem o sentido de ser evangélico.

Por isso, minha luta nunca foi contra a instituição, pois tal luta é tão inglória e tola quanto correr da própria sombra. Minha luta sempre foi contra
a institucionalização.

A instituição deve ser fruto do que é. Já a institucionalização põe o que é a serviço de algo que já não é, posto que apenas um dia foi. Como assim?

O princípio do Evangelho acerca do que se institui pela realidade e necessidade, em contrapartida àquilo que um dia foi e hoje já não é, nos é apresentado por duas imagens: a dos odres velhos e dos novos e a da veste velha e do pano novo.


A instituição é validada pela sua relevância e pelo seu significado real para a vida hoje. Instituição é um ente vivo se é feito de gente e para gente! Mas Institucionalização é o esforço presente por manter o passado e suas regras humanas de ontem válidas para hoje, mesmo que ninguém consiga ver a sua significação. Logo, é só a ditadura dos defuntos.

Assim, o pano novo e o vinho novo correspondem à instituição do que é — do que é necessário e do que é verdadeiro e sincero com a realidade. Do mesmo modo, a veste velha e o odre velho, com seu vinho velho, correspondem à institucionalização.

Jesus disse que era para não se tentar instituir o novo no velho instituído, pois jamais haveria compatibilidade.

Já o que se faz instituído como algo fixo (institucionalização) deseja vestir para sempre as pessoas com as vestes de ontem e almeja que cada nova geração goste do mesmo vinho produzido num ontem eterno. Assim, o que antes fora vinho novo, tendo sido condicionado por um odre de imutabilidade, pode hoje já não ser nada, além de vinagre. E o perigo é esse: beber vinagre como quem bebe vinho!

O Evangelho Imutável é o Vinho, e o resto tem a ver com o tempo, com a hora, com a ocasião. Só que nós, cristãos, acabamos institucionalizando o Odre, e o Odre ganhou uma importância tão grande que a gente briga, mata e morre pelo Odre, mas são poucos os que estão interessados com a qualidade do Vinho.

Saibam todos: é por ter entregado a alma à "Institucionalização" e as instituições a gente sem alma que a "igreja" carrega as mazelas desse estado de ser. A lei, o orgulho, a vaidade, o mercado, a vanglória, a fama, o culto à imagem, o comportamentalismo, a superficialidade, o formalismo, os ciúmes, a picaretagem, a fixação no controle das pessoas, as jogadas políticas, a venda de votos, as negociatas e a grotesca hipocrisia tornaram os evangélicos insuportáveis até para os evangélicos mais sensíveis!

Portanto, algumas coisas precisam ficar claras:


  1. Não é a instituição que tem o poder de matar as coisas, mas sim o coração que se deixa fixar pela Instituição, fazendo da existência dela um fim em si mesmo — a Institucionalização da Fé! Basta, entretanto, um coração se sentir superior, alguém se sentir dono histórico da casa, sendo sempre um ser mais importante do que os que forem chegando depois, então tudo se perverte! Eu estou me referindo àquelas tentativas de ir fazendo pequenas leis que não são da Palavra, mas que vamos chamando de "sabedoria" no início. Depois muda: "É o nosso costume". Em seguida se torna: "É o nosso modo de ser". E, então, quando os que começaram já não estão, a gente diz: "Não era assim que se fazia" ou "não podemos mudar como era. Se mudar nós perderemos a nossa identidade".

  2. Se mantivermos a alma no Evangelho, com o software da graça e do amor rodando na mente o tempo todo, com a consciência simples, andando no Senhor Jesus, tratando uns aos outros como irmãos — sem se imporem, sem evocarem pedigree, sem dizer: "Eu cheguei aqui primeiro", sem ficar auditando uns aos outros, sem ficar fiscalizando uns aos outros, sem ficar impondo suas próprias decisões pessoais e particulares como sendo leis comunitárias para o outro —, então não há perigo algum!

  3. Não há perigo se o que está instituído é apenas uma referência histórica para o momento de hoje, não sendo o teto, nem a parede, nem o chão do movimento, mas apenas o tabernáculo da viagem, a tenda que se arma enquanto se caminha, e a Estação da jornada.

  4. Não há perigo se cada um de nós souber que o único poder de institucionalizar a coisa é aquele que procede de nós. Porque a instituição como mal e como finalidade só pode acontecer em gente. São as pessoas que projetam o que neles está instituído como algo que a instituição será, com a soma dos interesses e das divisões da média ponderada dos associados e dos interessados na manutenção desse ente. Mas o ente institucional, em si, não é nada. Ela, a Instituição, não acorda e diz: "Bom dia!" Ela não lhe dá boa noite. Se o seu pai morrer, a instituição não lhe diz: "Sinto muito, de todo coração". Se o seu filho nascer, ela não o aplaude. Agora, se o seu filho morrer e ela for solidária, não foi ela que foi solidária; é porque tem gente lá dentro que se solidarizou. E ela não existe, só existem pessoas. Portanto o grande mito a se acabar é essa coisa de que se tiver CNPJ, conta bancária, um nome ou logotipo, aí institucionalizou-se! Um logotipo não vira Instituição. Razão social não vira Instituição. Conta bancária não vira Instituição. Em nosso tempo, para que um encontro comunitário seja legalizado e auditável tem que ser institucional. Mas não há problema nisso, porque eu tenho CPF, RG, título de eleitor, atestado de reservista, certidão de casamento, passaporte e continuo não-institucionalizado. Eu sou "eu" todo dia.
Desse modo, digo: o Caminho da Graça é uma instituição pelo simples fato de milhares de pessoasseja pelo site, seja em razão dos encontros nas dezenas de grupos e Estaçõesafirmarem sua convergência de convicção nas mesmas coisas, confessando os mesmos objetivos no
Evangelho, e que estão, de modo relativo e secundário, expressos de forma atualizada nos conteúdos que publicamos.


Entretanto, o principal conteúdo do Caminho da Graça é sua disposição de existir em metanóia, no permanente encontro entre a Palavra e a Existência. Assim se espera que o processo de se converter ao novo não cesse jamais, conforme a revelação do Evangelho, o qual é Palavra viva, e se re-atualiza a cada nova realidade ou geração.

Saiba-se, contudo, só uma coisa a mais: eu já tomei atitudes deliberadas que puseram abaixo algo que era considerado "muito importante" para milhões; e isso porque eu senti que estava traindo o Chamado de minha existência como homem. Assim, por que achariam que eu tenho dificuldade em ver acabar qualquer coisa que eu tenha ajudado a construir?

Não! Não tenho nenhum compromisso com perdas, padrões de um dia ou com a manutenção do que um dia foi bom. O que é de Deus, sempre é Hoje!

Eu creio que tudo aquilo que vira um fim em si mesmo precisa ser destruído. Sim, qualquer coisa. Ou seja: no Caminho nada é erguido para ser um fim em si mesmo. Se assim for, bem-aventurado é todo aquele que o puser abaixo. Afinal, é assim, ou deveria ser assim, com todas as coisas debaixo do sol.


O Caminho da Graça para Todos